Angela Soares

“Hoje eu acordei com medo, mas não chorei nem reclamei abrigo. Do escuro, eu via um infinito sem presente, passado ou futuro. Senti um abraço forte, já não era medo. Era uma coisa que ficou em mim”. (Poema, Ney Matogrosso).

Nos recantos da memória, há presenças que insistem em se manter: Algumas são sombras que projetamos sem perceber; outras, sobras do que já fomos e do que não conseguimos deixar de reviver….

…. Aquele rato por duas vezes me encontrou e nos olhamos – friamente e com medo visceral. Nos dois momentos haviam desconfortos, miséria e sonhos…. Ah, os sonhos, esses nunca me faltaram! A primeira vez que o vi, foi na mais tenra idade, um tempo marcado pelo desamparo e necessidade de aprovação. Por sorte vinguei, os anos passaram e ele retornou. Dessa vez me encontrou carregada de inquietações, cansaço no olhar e numa luta desenfreada pela sobrevivência.

Hoje, pela manhã, na calmaria do café, me lembrei dele e pensei. Esse rato nunca mais apareceu.

Esse rato não mais voltou, ou talvez nunca tenha ido embora. Desconfio que tenha aprendido a vê-lo como parte de mim, não mais como medo, mas como um sinal do caminho que percorri.

Angela S.

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